sexta-feira, 22 de junho de 2012

“Dos mais belos sentimentos ao abismo.”Foi o que senti no dia 31 de agosto de 2008, após uma inesperada declaração:
“Mãe, eu sou gay”.

O que você disse? Está louca? Quer me magoar? Meu deus! Cadê a minha menininha?

Um abismo se abriu
entre minha filha e eu, o mais sublime dos sentimentos se transformou em ódio, decepção, traição, vergonha.

O desconhecido me apavorou tanto que não pude reconhecer aquela menina que estava na minha frente e a tratei mal, muito mal. Chorei tanto que minhas lágrimas pareciam ter secado.

Ao mesmo tempo em que sofria, fazia questão de que ela sofresse também. Buscava incessantemente um culpado por aquela situação: destratei amigos dela, magoei pessoas, humilhei e desprezei minha filha, enlouqueci! Minha motivação para tudo vinha na esperança de que ela me dissesse que era mentira, que aquilo era uma fase e que não voltaria a acontecer.

Que grande mulher foi a minha filha! Manteve-se firme e convicta, não cedendo um milímetro sequer em frente às minhas chantagens emocionais, apelos, ofensas e humilhações. Dias e dias se passavam e eu não conseguia mais me aproximar dela. Quis obrigá-la a procurar um tratamento psicológico e lembro exatamente da resposta que recebi: “Mãe, eu não preciso de ajuda. Talvez antes, quando eu escondia algo, eu precisasse. Agora, eu to curada! Sempre tive uma vida maravilhosa e, se tu quiseres, sento e te conto toda a minha vida de novo. Aí, quem sabe, tu lembras quem eu sou”.

Pois foi aí que me dei conta de quem realmente estava precisando de ajuda. Senti que estava correndo o risco de perdê-la e comecei a me questionar: Onde está o meu amor incondicional? Minhas obrigações de mãe? O ser humano que eu tinha gerado era até então tão integro, justo, honesto, amoroso, sempre me deu tanto orgulho, porque estou o vendo como um monstro agora?

Não deu
outra: liguei e marquei uma consulta com um psiquiatra. Desabafei e chorei durante duas horas, mas valeu muito à pena. Ele me trouxe à realidade e desmistificou aquele “desconhecido”, me ajudando a perceber que minha filha era a mesma, que nada iria mudar, exceto às pessoas com quem ela iria se relacionar: outras meninas.

“Somos insignificantes. Por mais que você programe sua vida, a qualquer momento, tudo pode mudar.” (Airton Senna)

Foi assim que eu e o meu “bebê” nos reencontramos. Ela por si só me ajudou muito a compreender o que estava acontecendo. Estava sempre pronta para conversar e impôs muitas conversas, mesmo quando eu dizia não querer olhar na cara dela. Manteve-se firme, entendeu a minha situação, teve calma, pesquisou bastante sobre o assunto e cada palavrinha dela começou a fazer efeito na minha cabeça.

Cresci como ser humano e vi que realmente nada havia mudado entre nós, pelo contrário, ficamos infinitamente mais próximas. “Adotei” como filhas/amigas todas as namoradas que ela teve nesse meio tempo, fazendo ainda o papel de boa sogra, que fica do lado delas na hora de dar uns bons puxões de orelha na minha cria.

Hoje sei que nem eu e nem ela temos culpa nenhuma. Ela nunca me julgou por ter sido sempre tão ocupada com o trabalho, não percebendo nada, durante dezenove anos. E eu, por outro lado, explodo de tanto orgulho que sinto.

Meu nome é Estela Freitas, eu sou mãe da Brunna Kirsch, que tem hoje 23 anos, faz cinema, é homossexual assumida e dirige o documentário
“O Segredo dos Lírios”.

4 comentários:

  1. Bela postagem,,na vida temos que aceitar e respeitar as diferenças,,,obrigado pelo carinho de sua visita,,,volte sempre,,,um belo final de semana pra ti amiga...beijos...

    www.olivrodosdiasdois.blogspot.com

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  2. Ola Estela,
    às vezes temos preconceitos que nem sabemos que temos.
    Respeitar a escolha do outro é o mais nobre dos sentimentos.
    Sua historia e da sua filha é linda alem de ser um exemplo
    para outras pessoas.
    Deixo um beijo e um raminho de flores pra enfeitar seu
    cantinho

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  3. Um excelente sábado pra ti minha amiga, repleto de bons acontecimentos e muita poesia...beijos e flores.

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  4. Oi Estela,
    Vim tomar um cafezinho com você.rs
    Aproveito e deixo pra você:

    Paciência para as dificuldades
    Tolerância para as diferenças
    Benevolência para os equívocos
    Misericórdias para os erros
    Perdão para as ofensas
    Equilíbrios para os desejos
    Sensatez para as escolhas
    Sensibilidades para os olhos
    Delicadezas para as palavras
    Coragem para as provas
    Fé para as conquistas
    E amor para todas as ocasiões..."

    Hoje quero deixar também um beijo especial pra Bruna.
    E o desejo de um finalzinho de semana cheio de gotinhas
    da paz.

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